Liberdade?

"LIBERDADE É POUCO. O QUE DESEJO AINDA NÃO TEM NOME" (PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM)
Clarice Lispector





domingo, 29 de janeiro de 2012


TRECHOS DO LIVRO
"VOCÊ PODE CURAR SUA VIDA"
LOUISE L. HAY

"NA INFINIDADE DA VIDA ONDE ESTOU, TUDO É PERFEITO, PLENO E COMPLETO E NO ENTANTO A VIDA ESTÁ SEMPRE MUDANDO.
NÃO EXISTE COMEÇO NEM FIM, SEMPRE UM CONSTANTE CICLAR E RECICLAR DE S...UBSTÂNCIA E EXPERIÊNCIAS.
A VIDA NUNCA ESTÁ EMPERRADA, ESTÁTICA OU RANÇOSA, POIS CADA MOMENTO É SEMPRE NOVO E FRESCO.
EU SOU UN COM O PODER QUE ME CRIOU E ESSE PODER ME DEU O PODER DE CRIAR MINHAS PRÓPRIAS CIRSCUNSTÂNCIAS.
REGOZIJO-ME NO CONHECIMENTO DE QUE TENHO O PODER DA MINHA PRÓPRIA MENTE PARA USAR DE QUALQUER FORMA QUE EU ESCOLHER.
CADA MOMENTO DA VIDA É UM NOVO PONTO DE COMEÇO À MEDIDA QUE NOS AFASTAMOS DO VELHO.ESSE MOMENTO É UM NOVO PONTO DE COMEÇO PARA MIM BEM AQUI E AGORA MESMO.
TUDO ESTÁ BEM NO MEU MUNDO."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O DIA DO CURINGA




O livro de Jostein Gaader (mesmo autor de O mundo de Sofia) é uma fabula recheada de perguntas pretensamente filosóficas e até mesmo um pouco ingenuas, porém, não deixa de ser contagiante e de prender a atenção - mais pela fantasia que apresenta do que pela filosofia em si (seria um belo filme, caso fosse adaptado, tipo um "Alice" filosófico e com um protagonista garoto: Hans-Thomas).
Por outro lado, o livro além de revelar que as pessoas estão anestesiadas com a realidade que as cerca, por isso não percebem a beleza e o milagre que é estarem vivo e fazerem parte de uma história, não apenas sua, mas da humanidade; O dia do Curinga não deixa de ser também uma história de amor..na verdade de amores desencontrados e reencontrados; separados e reunidos pelo destino.
No caso dos pais de Hans-Thomas, a separação durou 8 anos,  a de seus avós 52 anos....mas no final o amor de ambos os casais acabou superando as distancias, as diferenças e o sofrimento que a separação casou em uma espécie de redenção - o casal mais jovem tem mais um filho para consiolidar a união e o mais velho, bem, reuniu-se para antes de morrer, selarem o amor que não puderam de fato viver, mas que rendeu muitos frutos (2 gerações, até o momento).
Além disso, o livro trabalha com um comparação constante entre a nossa vida e um enorme jogo de cartas (paciência) em que todas as cartas fazem parte de uma massa anestesiada pela realidade, por isso, inertes a tudo que as cerca e o curinga - a únia carta que não se encaixa nessa realiade, pois, destoa dela,como ele mesmo diz, não é um número, não é uma figura e não pertence a nenhuma naipe - desse ponto de vista representa aquelas pessoas que se questionam, questionam a realidade, se perguntam sobre tudo que os demais não se interessam e ainda se encantam com o fato de estare vivos, fazendo uma direta e explicita alusão entre esse ser e s filosofos; pois, durante toda a história o pai de Hans-Thomas é chamado ora de curinga, ora de filosofo.

CITAÇÕES RETIRADAS DE:
CALEIDOSCÓPICA     http://bia1601.blogspot.com/2010/05/o-dia-do-curinga.html

1. "E tem mais: no fundo ele já achava que todas as pessoas eram superficiais."
2. "Meu conselho para todos os que querem se encontrar é continuarem bem onde estão. Do contrário, é grande o risco de se perderem para sempre."
3. "(...) quanto mais bonita uma mulher, tanto mais difícil era para ela se encontrar."
4. "(...), mas não sabia que as pessoas também podiam naufragar em aventuras."
5. "É que as crianças simplesmente adoram imitar as infâmias de seus pais."
6. "Dizia que bebia para esquecer. (...). Acho que a bebida só o ajudava a se lembrar melhor das coisas."
7. "O universo está fervilhante de vida. Só que nunca saberemos se estamos ou não sozinhos. As galáxias são como ilhas solitárias, sem qualquer ligação entre si."
8. "Os anjos são mais inteligentes do que os homens. (...). Eles não são tão inteligentes quanto Deus, mas entendem tudo o que nós, humanos, somos capazes de entender, só que sem terem de ficar pensando sobre as coisas."
9. "As novidades, como você sabe, despertam a atenção e depois caem no esquecimento."
10. "Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele."11. "Até o menor dos animais é uma pessoa, pensei. Esse peixinho, que vive nadando dentro do aquário, só iria viver esta vez. E um dia, quando sua vida se acabasse, ele nunca mais voltaria."
12. "- Todas as pessoas velhas têm o direito de morrer - respondeu ele. E segurando os meus ombros franzinos, disse: - Mas é bom saber que outros virão para prosseguir do ponto em que a gente parou."
13. "E embora estivéssemos vendo as mesmas estrelas, estávamos infinitamente longe uns dos outros. Pois as estrelas são sábias, Albert. Para elas, tanto faz como escolhemos viver nossas vidas aqui na Terra."
14. "- Você nunca pensou em procurar uma outra mulher, em vez de passar metade da sua vida procurando aquela que também vive se procurando? - perguntei.
(...).
- É verdade... está aí uma coisa misteriosa. Existem cerca de cinco bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba se apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra.E isso foi tudo o que se disse sobre aquele baralho. Embora ele mostrasse cinqüenta e duas mulheres diferentes, todas elas se esforçando para ser a mais bonita, eu sabia que, aos olhos do meu pai, faltava àquele baralho uma carta importante."
15. "Sim, no fundo, você travou uma guerra contra si mesmo e contra suas possibilidades de nascer três séculos mais tarde."
16. "A vida é uma loteria gigante, da qual só se vêem os ganhadores."
17. "(...) uma antena receptora de ondas de rádio que apenas captava alguma coisa que chegasse até ela vinda não se sabe de onde. Acho que chamam isso de inspiração."
18. "- O problema é que a gente sempre pensa naquelas ocasiões em que as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. E este é o ponto. (...). Ainda que a gente viva duro trezentos e sessenta e cinco dias por ano! Pois bem, é exatamente assim que vão se acumulando as histórias sobre toda a sorte de 'experiências sobrenaturais' que nos são contadas por nossas tias e tios. As pessoas se interessam tanto por histórias assim que estas se multiplicam cada vez mais. Mas também nesse caso trata-se de algo em que apenas os ganhadores são visíveis."
19. "- O fato de nós nos aferrarmos com tanta voracidade ao 'sobrenatural' pode ser explicado por um tirpo raro de cegueira, que não nos permite enxergar o maior dos mistérios: o fato de que existe um mundo. (...). Não acredito que o mundo seja um 'acaso', (...):"
20. "- Acho que o universo é fruto de uma vontade. Um dia você verá que por detrás de todas essas miríades de estrelas e galáxias oculta-se uma intenção."
21. "(...): entendi, de repente, que as pessoas no mundo inteiro eram tão desligadas das coisas que as cercavam (...)."
22. "Vivemos nossas vidas num incrível mundo de aventuras, pensei. Apesar disso, a grande maioria das pessoas considera tudo isso 'normal'. Em compensação, vivem em busca de algo fora do normal: anjos ou então marcianos. E isso explica o fato de que elas não consideram um enigma o mundo em que vivem. Para mim a coisa era completamente diferente. Para mim, o mundo era um sonho muito estranho, e eu vivia em busca de uma explicação racional qualquer para esse sonho."
23. "(...); um sentimento que desde então nunca mais me deixou: lá estava eu na frente da janela da cabine de um navio, eu, um ser enigmático, vivo, mas que apesar disso nada sabia de si. Experimentei a sensação de ser uma criatura viva num planeta vivo dentro de uma Via Láctea."
24. "Não conseguia entender como as pessoas conseguiam viver neste mundo sem se perguntarem, ao menos de vez em quando, quem eram e de onde tinham vindo. Como era possível fechar os olhos à vida neste planeta, ou então considerá-la 'evidente'?"
25. "Eles eram os grandes culpados por eu experimentar de repente uma sensação de solidão profunda; ao mesmo tempo, de alguma forma eu sabia que aquela solidão só podia me fazer bem."
26. "(...) tive tempo de refletir um pouco sobre como é importante ter os olhos bem abertos para tudo, mas que não existe nada mais importante do que estar na companhia de alguém que a gente ama."
27. "(...), pelo menos não tinham consciência de todos os seus movimentos, até dos menores. Em poucas palavras: elas estavam ali, vivas, mas não tinham plena consciência de toda a sua vivacidade."
28. "Pois se ela acenava para si mesma, isso significava que tinha consciência de sua própria existência. De uma certa forma, ela era duas pessoas. De um lado, era a mulher que estava ali no salão e passava batom nos lábios; de outro, era a mulher que acenava para si mesma dentro do espelho."
29. "- Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo - disse ele, e fez uma pausa -, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo."30. "A história é como um grande conto de fadas. A única diferença entre os dois é que a história é de verdade."
31. "(...) - Depois a gente procura solução para o mistério da vida. Não há mesmo muita pressa para isso. Afinal, esse é o 'nosso' projeto de vida e não há nada nem ninguém que possa nos impedir de realizá-lo."
32. "- Interessar-se pela questão de saber quem somos e de onde vem o mundoé um hobby tão raro que praticamente nos isola de todo o resto. Nós, que nos iteressamos por isso, vivemos tão afastados uns dos outros que nem nos damos ao trabalho de fundar nossa própria associação."
33. "Eu não conseguia entender como alguma coisa podia surgir do nada."
34. "(...): eu não tinha certeza alguma de nada."
35. "Alguma coisa os impedia de se reconhecerem criaturas da minha imaginação. Aliás, a falta de consciência acerca de sua própria condição é comum a todas as criaturas. Mas justo essas criaturas da minha imaginação eram diferentes de todas as outras. Elas tinham percorrido o inexplicável caminho que leva do espaço da criação na minha cabeça para o espaço real, o espaço criado."
36. "Não teria sido 'eu' a passar para um mundo de eterno sonho? Será que eu não teria me perdido, não apenas na ilha como também na minha imaginação? E se essa hipótese fosse verdadeira: será que encontraria o caminho de volta à realidade?"
37. "E se o mundo é um número de mágica, então deve existir um mágico. (...). Mas não é fácil desvendar um truque de mágica, se o mágico que o realiza nem sequer se mostra no palco."
38. "- Se realmente existe um Deus - continuei -, então ele adora ficar brincando de esconde-esconde com suas criações."
39. "- Talvez ele tenha tido um choque quando viu o que tinha criado - disse ele. - E então saiu rapidinho de cena. Você sabe... é difícil dizer quem levou o susto maior, se Adão ou o Mestre. De fato, acho que um ato de criação dessa magnitude provoca um susto tão grande tanto numa parte como na outra. Mas acho que ele pelo menos poderia ter assinado rapidamente a sua obra-prima.
- Assinado?
- Sim. Ele poderia ter gravado o seu nome nas rochas de uma montanha, por exemplo.
- Quer dizer que você acredita em Deus?
- Não disse isso. Pode muito bem ser que ele esteja sentado em seu trono lá no céu, rindo de nós porque não acreditamos nele."
40. "- Pois mesmo que ele não tenha deixado nenhum cartão de visita, pelo menos deixou o mundo. Acho que isso já é o bastante, você não acha? - Certa vez, um cosmonauta russo e um neurocirurgião, também russo, discutiam sobre o cristianismo. O neurocirurgião era cristão, o cosmonauta não era. 'Já viajei muitas vezes para o espaço sideral', gabou-se o cosmonauta, 'mas nunca vi nenhum anjo.' O neurocirurgião primeiro ficou olhando para ele; depois disse: 'E eu já operei muitos cérebros inteligentes, mas nunca vi um pensamento'."
41. "- Não, Hans-Thomas, Deus está morto. E fomos nós que o matamos."
42. "- Chamamos de filósofo uma pessoa que busca a sabedoria. E não queremos dizer com isso que um filósofo seja uma pessoa especialmente sábia. Você entende a diferença?"
43. "O própria Sócrates costumava dizer que a única coisa que ele sabia era que não sabia de nada.
- Então ele não era uma pessoa partularmente inteligente - retruquei.
- Vamos com calma... - advertiu meu pai. - Quando duas pessoas não têm a menor idéia sobre uma coisa e uma delas, apesar de saber que não sabe, quer dar a impressão de que sabe muito, qual das duas você acha que é a mais inteligente?
Tive de admitir que a mais inteligente era aquela que não fingia saber mais do que realmente sabia."
44. "A diferença entre Sócrates e todos os outros era que os outros estavam de todo satisfeitos com o pouco que sabiam, embora não soubessem mais do que ele. E as pessoas que se sentem satisfeitas com o que sabem nunca poderão ser filósofos."
45. "- Se no meio de todas essas pessoas houver apenas uma que se surpreenda com a vida a cada instante e tenha a sensação, toda vez que isso acontece, de estar diante de algo fabuloso e enigmático... - Respirou fundo e prosseguiu: - Você está vendo um monte de gente lá embaixo, não está, Hans-Thomas? Pois bem... se apenas uma delas experimentar a vida como uma aventura fantástica... e se ele ou ela experimentar essa sensação todos os dias...
- Sim? - perguntei ansioso, pois pela segunda vez ele não tinha completado o que queria dizer.
- Ele ou ela será um curinga no baralho.
- Você acha que há um desses curingas por aqui?
Ele sacudiu os ombros.
- Não - disse. - É claro que não posso ter certeza absoluta disso, pos de vez em quando aparece algum curinga. Mas a possibilidade é inifinitamente pequena."
46. "- Toda manhã acordo com um estalo. É como se a cada manhã alguma coisa me lembrasse de que eu estou vivo, de que sou um ser vivo vivendo uma aventura fantástica. Pois, afinal de contas, quem somos nós, Hans-Thomas? Será que você pode me responder? Somos feitos de uma pequena porção de poeira estelar. Mas o que significa isso? De onde vem esse mundo, afinal?
- Não faço a menor idéia - respondi, e me senti tão por fora nesse momento quanto Sócrates.
- E de vez em quando esse pensamento me vem à cabeça, sem marcar hora, bem no meio da noite. Sou uma pessoa e só vou viver esta única vez, penso. E depois nunca mais vou voltar.
- Então acho que a sua vida é muito dura - disse eu.
- Dura, sim, mas extremamente excitante. Não preciso de um castelo frio e abandonado para sair à caça de fantasmas. Eu mesmo sou um fantasma."
47. "A última coisa que meu pai contou sobre o oráculo de Delfos foi que os antigos gregos tinham gravado uma inscrição no templo com os seguintes dizeres: 'Conhece-te a ti mesmo'.
- Falar é fácil... - comentou ele."
48. "'Tudo parece tão planejado', disse ele, esforçando-se visivelmente por esconder sua expressão preocupada. 'Tão bem pensado e tão organizado... Acho que somos cartas num monte e não conseguimos ver quem ou o que decide se vai nos virar sobre a mesa ou se vai nos deixar no monte.'"
49. "'Eu sou o Curinga', gritou ele. 'Não se esqueça nunca disso, meu caro Mestre. Eu não sou como todos os outros por aqui, entende? Não sou rei nem valete, e nem sou de ouros ou paus ou copas ou espadas.'"
50. "- Belos sim, mas totalmente alienados. Veja uma coisa... todos eles 'são parte' dessa natureza exuberante, mas não se dão conta disso. (...).Só no Curinga ainda parece continuar aceso um pouco da chama do que ele foi um dia. E na linda figura do Ás de Copas. Ela vive dizendo que tenta 'encontrar a si mesma'."
51. "- Quando eu ainda vivia sozinho na ilha, minhas visões foram ficando cada vez mais fortes, até que saíram dos meus pensamentos, ganharam vida e passaram para este lado. Apesar disso, continuaram a ser frutos da minha imaginação. E a imaginação tem o estranho poder de fazer com que tudo aquilo que cria continue jovem e vivo para sempre."
52. "Conosco, meros mortais, a coisa é bem diferente: a gente envelhece, fica com os cabelos brancos, e um dia se acaba e desaparece deste mundo. Com os nossos sonhos, porém, a coisa é diferente. Eles podem continuar vivendo em outras pessoas muito tempo depois de termos partido."
53. "- A outra grande questão - prosseguiu - é saber se elas continuarão por aqui depois que eu me for.
- E o que o senhor acha?
- Não posso responder a essa pergunta. E também nunca vou encontrar alguém que me dê uma resposta para ela. Pois quando eu não estiver mais aqui, não terei meios de saber se minhas criaturas continuam vivendo aqui na ilha."
54. "- Como você pode ter tanta certeza de que esses deuses não existiram mesmo? Pode ser que agora eles estejam desaparecidos, ou que encontraram um outro povo de tão boa-fé quanto os gregos. Mas houve um momento em que eles andaram aqui pela Terra."
55. "(...) - Mas acho que de alguma forma eles estiveram aqui na Terra enquanto as pessoas acreditaram neles. Acho que a gente vê aquilo em que acredita. Por isso é que, enquanto as pessoas não duvidaram da existência deles, eles não envelheceram nem ficaram gastos ou puídos."
56. "- Sim... mas tanto o rei Laio quanto Édipo tentaram fugir do seu destino. Só que para os antigos gregos isso era algo totalmente impossível."
57. "- Não podemos nos esquecer de que é o Curinga que, sozinho, ordena num todo coerente aqilo que antes era o caos total. Isso porque as figuras inventam suas frases sozinhas, sem trocar idéias umas com as outras."
58. "(...)? E foi por isso que ela veio para cá: sua imagem invertida a atraiu. Era seu 'destino', você não entende?"
59. "- 'Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.'"60. "- Na praia, uma criança constrói um castelo de areia. Por um momento, contempla admirada a sua obra. Depois destrói tudo e constrói um outro castelo. Da mesma forma, o tempo permite que o globo terrestre realize seus experimentos. (...); aqui os acontecimentos foram gravados na memória das pessoas, e depois novamente apagados. Na Terra, a vida pulsa de forma desordenada, até que um belo dia nós somos modelados... com o mesmo frágil material de nossos antepassados. O sopro do tempo nos perpassa, nos carrega e 'se incorpora' a nós. Depois se desprende de nós e nos deixa cair. Somos arrebatados como num passe de mágica e depois novamente abandonados. Sempre há alguma coisa fermentando, à espera de tomar nosso lugar. Isso porque não temos um solo firme sob os nossos pés. Não temos sequer areia sob os pés. Nós 'somos' areia."
61. "- Não há um lugar onde possamos nos esconder para escapar do tempo - continuou meu pai. - Podemos escpar de reis e imperadores, e talvez até de Deus. Mas não podemos escapar do tempo. O tempo nos enxerga em toda a parte, pois tudo à nossa volta está mergulhado nesse elemento infatigável."
62. "- O tempo não passa, Hans-Thomas, e não é um relógio. 'Nós' passamos e são os 'nossos relógios' que fazem tique-taque. O tempo vai devorando tudo através da história, silenciosa e inexoravelmente, como o sol se levanta no Leste e se põe no Oeste. Ele destrói civilizações, corrói antigos monumentos e engole gerações atrás de gerações. Por isso é que falamos dos 'dentes da engrenagem do tempo': o tempo mastiga, mastiga... e somos 'nós' que estamos no meio de seus dentes."
63. "- Por um breve espaço de tmepo fazemos parte da extraordinária agitação deste mundo. Andamos pela Terra como se isso fosse a coisa mais evidente do mundo. (...)? Mas toda aquela agitação vai desaparecer. Vai desaparecer e ser substituída por outra, pois sempre há outras pessoas prontas, à espera. Sempre surgem novas idéias. Nenhum tema se repete, nenhuma composição é escrita duas vezes... Nada é tão complicado e tão precioso quanto um ser humano, meu filho. Apesar disso, somos tratados como futilidades baratas!"
64. "(...) - Cumprimentamo-nos e sorrimos uns para os outros como se quiséssemos dizer: 'Oi, aqui estamos nós vivendo juntos nesse momento! Dentro da mesma realidade... ou da mesma história'. (...)? Vivemos num planeta no universo. Mas logo seremos varridos do tabuleiro. Abracadabra e... pronto! Desaparecemos."
65. "- Se nós vivêssemos em outro século - prosseguiu meu pai -, dividiríamos nossas vidas com outras pessoas. Nesse momento só podemos cumprimentar, sorrir e desejar bom -dia para milhares de nossos contemporâneos: 'Ei, você! Que coisa fantástica podermos compartilhar do mesmo tempo!'. Talvez algum dia eu esbarre em alguém. E nesse momento eu abra uma porta e diga: 'Olá, alma minha!'. (...). - Estamos vivos, ouviu bem? Mas só por esta vez. Podemos dizer, de braços abertos, que existimos. Mas logo somos colocados de lado e enfiados no saco das trevas da história. Pois somos criaturas sem retorno. Somos parte de um eterno baile de máscaras, em que os mascarados vêm e se vão."
66. "- Você acredita que haja alguma coisa que não possa ser levada como a areia do castelo que a água do mar destrói?
(...)
- 'Aqui' - disse ele, e apontou para sua cabeça. - Aqui dentro tem alguma coisa que não pode ser levada.
(...)
- O pensamento não pode ser levado, (...)? Os filósofos em Atenas achavam que também há uma coisa que 'não' passa. Platão chamava isso de o mundo das idéias. Pois não é o castelo de areia a coisa mais importante na brincadeira da criança. O mais importante é a 'imagem' de um castelo de areia que a criança tem na cabeça antes de começar a construir o castelo. Por que outras razão você acha que ela destrói com as mãos o castelo que acabou de construir?"
67. "- Nunca aconteceu a você de querer desenhar ou construir alguma coisa e não conseguir fazer isso direito? Você tenta mais uma vez, tenta outras vezes, mas nunca dá certo. Isso se explica pelo fato de que a imagem que você tem do que quer fazer sempre é incomparavelmente superior às cópias a que você tenta dar forma com as mãos. E o mesmo ocorre com tudo o que vemos à nossa volta. Trazemos dentro de nós a noção de que tudo que vemos à nossa volta poderia ser melhor do que é."
68. "- Porque trazemos em nós todas as imagens do mundo das idéias. É lá a nossa verdadeira morada, entende? E não aqui embaixo, no meio da areia, onde o tempo apanha e devora tudo o que amamos.
- Quer dizer que existe um outro mundo?
(...)
- É lá que estava a nossa alma antes de vir habitar um corpo. E é para lá que ela vai voltar quando o o corpo sucumbir à ira do tempo.
(...)
- Pelo menos era o que achava Platão, um dos maiores filósofos gregos. Nossos corpos têm o mesmo destino dos castelos de areia. Quanto a isso não há o que fazer. Mas temos uma coisa em nós que o tempo não consegue corroer. E não consegue porque ela não pertence a este mundo. Precisamos voltar nossos olhos para além e para cima do que vemos à nossa volta. Precisamos enxergar aquilo de que tudo à nossa volta é apenas uma imitação."
69. "(...) - Mas só quando as partes estiverem reunidas num todo é que a paciência vai ganhar um sentido. Pois somos todos da mesma linhagem."
70. "(...). - É assim que começa nossa história. Talvez não seja um começo dos mais grandiosos, mas é um começo."
71. "- As pessoas velhas têm o direito de morrer, meu jovem. Sabe, é bom saber que virá alguém para continuar nossa obra do ponto em que paramos."
72. "'- O destino é uma cobra faminta que se engole a si mesma. (...). O destino é uma couve-flor, que cresce por igual em todas as direções.'"
73. "'- A paciência é uma maldição de família. Há sempre um curinga que não se deixa iludir. Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.'"
74. "(...). - Todos nós podemos nos orgulhar dessa paciência, pois cada um contribuiu com sua parte para ela."
75. "(...). Só estou querendo dizer que um curinga de verdade não toma bebida alcoólica. Pois sem bebida alcoólica o curinga pensa de forma mais clara."
76. "(...): os olhos são o espelho da alma."
77. "(...). Assim, tudo o que sempre fiz foi andar por aí observando tudo o que os outros faziam. Em contrapartida, pude ver um monte de coisas para as quais todos os outros sempre foram cegos."
78. "- Toda manhã vocês se levantam e saíam para o trabalho. Na verdade, porém, vocês nunca estiveram de fato acordados. Pode ser que vocês tenham visto o sol, a lua e as estrelas no céu, e também tudo o que existe e se move sobre a terra... mas vocês nunca viram todas essas coisas como elas 'realmente' são. No caso do curinga é diferente, pois ele veio ao mundo com o defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade!"
79. "(...). Pois não basta ficar se olhando o tmepo todo num pequeno espelho, como as quatro damas aqui do povoado gostam tanto de fazer. Elas estão preocupadas com sua aparência que não se dão conta de que vivem."
80. "- A questão é que eu não apenas vejo todas essas coisas - prosseguiu o Curinga. - Eu também as 'sinto'. Sinto que sou... bem, que sou uma criatura vi... uma criatura viva... uma criatura muito estranha, com pele, cabelos e tudo... uma marionete viva... robusto como um boneco de borracha."
81. "- Estamos vivos! - exclamou o Curinga, (...). - Vivemos uma aventura maravilhosa aos olhos de um céu maravilhoso! Coisa estranha, misteriosa... podem acreditar! Vira e mexe dou um belicão no meu braço para ver se tudo isso é verdade..."
82. "- Agora, cada vez que ouço um dos meus guizos, sinto que estou vivo. E eles tilintam, como vocês todos sabem, ao menor dos meus movimentos."
83. "(...). - Cada um solucionou uma pequena parte do enigma. Isso porque quando se tem poca massa encefálica é preciso untar várias cabecças para se conseguir pensar um pensamento, por mais simples que ele seja. E essa cabeça fraca é resultado apenas do exagero da bebida púrpura. Eu vos digo que eu, o Curinga, sou mesmo uma marionete muito esquisita; mas todos vocês são tão esquisitos quanto eu. Só que vocês não conseguem ver isso por vocês mesmos. E também não dá para 'sentir' isso quando se toma bebida púrpura demais, (...). Quando isso acontece, a gente tem a impressão de formar uma coisa só com o jardim à nossa volta, e o resultado é que não conseguimos mais snetir que 'vivemos nossa própria vida' no interior do jardim. Pois quem tem o mundo inteiro na cabeça acaba se esquecendo de que possui uma boca. E quem sente todos os gostos do mundo nos braços e nas pernas se esquece de que é uma marionete cheia de mistérios. Eu, este Curinga que vos fala, tentei por várias e várias vezes contar-lhes a verdade, mas vocês não tinham ouvidos para ouvir. Ou melhor: ouvidos vocês tinham, mas os canais de audição estavam entupidos (...). Está certo que vocês tinham olhos para ver, mas de que adianta ter olhos se eles só vêem copos, garrafas e garrafões? Ouçam bem o que vos digo, pois só o Curinga conhece a verdade."
84. "(...). 'Ele também é uma marionete cheia de mistérios', eu me respondia. Uma marionete cheia de vida aos olhos de um céu misterioso. Um homem solitário nesta ilha mas que na verdade pertence a um outro jogo. Uma carta de um outro jogo. E não se sabe a quantidade de cartas que tem esse jogo. E nem quem distribui essas cartas."
85. "(...). - Sempre é preciso cantar a regra antes de cortar o monte de cartas."
86. "(...), sua presença vai nos lembrar de que somos criaturas artificiais."
87. "- Não é bom que criador e criatura convivam tão próximos um do outro, pois é grande o perigo de um acabar enervando o outro. (...). Não há o que ele possa fazer se as criaturas que criou na sua rica imaginação acabarem por se declarar independentes."
88. "- Cada qual pode imaginar o que quiser. Mas ele tem o dever de advertir as criaturas de sua imaginação para o fato de elas 'serem' criaturas da imaginação. Caso não o faça, ele as estará enganando... e, nesse caso, as criaturas que ele imaginou têm o direito de matá-lo."
89. "Senti o vazio e a solidão mais profundos que alguém é capaz de sentir. De repente, lá estava eu: completamente sozinho na ilha misteriosa. À minha volta agitava-se um jogo de cartas vivas... mas nenhum, nenhum dos anões daquelas cartas era uma pessoa como eu."
90. "- 'Você' o matou! - gritei. - Foi você quem roubou a bebida púrpura da casa dele e revelou o mistério das cartas!"
91. "(...). Mas então. e agora vem o mais importante, descobriu-se que dois anões não tinham essa identificação e nem eram numerados. (...). Por isso os outros anões tinham medo de nós. E no fim decidiram que a gente deveria usar um sino amarrado no pescoço, para que eles sempre pudessem saber onde a gente estava."
92. "- Que coisa inacreditável os pensamentos e idéias que passam pela cabeça da gente...! Ao que tudo indica, porém, as idéias mais profundas só aparecem quando a gente dorme."
93. "- Você sabe por que a maioria das pessoas vivem nesse mundo sem se admirar das coisas que vêem? - perguntou ele.
(...)
- Porque elas se habituam com o mundo! (...): - Todos nós precisamos de muitos anos para nos acostumarmos com o mundo. E é fácil observar isso nas crianças pequenas: elas ficam tão impressionadas e admiradas de tudo o que vêem que simplesmente não acreditam nos seus olhos. Por isso é que elas vivem apontando para todos os lados e perguntando sobre todas as coisas que descobrem. Conosco, os adultos, a coisa é diferente; já vimos as coisas tantas vezes que acabamos por considerar toda a realidade algo absolutamente evidente."
94. "(...) o fato de a humanidade não conseguir interpretar nem aqueles símbolos mais evidentes."
95. "Não é difícil reencontrar pessoas que a gente não vê há muitos anos. O difícil começa depois de passado o impacto do reencontro."96. "E cada vez que algum morre é uma tristeza, pois nenhum deles é igual ao outro. (...). E cubro seus túmulos silenciosos com uma pedrinha branca, pois acho que cada um deles merece um pequeno monumento capaz de sobreviver ao tempo."
97. "O importante agora era ficar frio e não cantar vitória antes da hora."
98. "(...) uma pessoa doente, que vivia mergulhado por completo na realidade de um mundo só seu."
99. "- Ela vive se perdendo das outras. Mas sempre a encontro em algum lugar."
100. "(...), eu não demoraria a experimentar com tanta freqüência e com tanta intesidade todas as coisas do mundo que inevitavelmente acabaria me tornando indiferente a elas."
101. "Mas nunca tinha entendido como cada um deles era algo único, misterioso, muito além do que a gente pode compreender. E naquele momento entendi também por que até aquele dia tudo tinha acontecido desse jeito: eu não tinha dado tempo a mim mesmo de 'vivenciar' a presença de um cervo, exatamente porque já tinha visto tantos."
102. "Enquanto somos crianças, ainda possuímos a capacidade de experimentar intensamente o mundo à nossa volta. Com o passar do tempo, porém, acabamos por nos acostumar com o mundo. Ser criança e se tornar um adulto, pensei, é como embebedar-se de sensações, de experiências sensoriais."103. "'Este mundo', pensei, 'é um milagre tão fantástico que, diante dele, a gente não sabe se ri ou se chora. Talvez as duas coisas ao mesmo tempo, o que não é nada fácil.'"
104. "(...). - Não basta a gente ter nascido um dia - continuou. - Esta noite foi o dia em que o aprendiz do padeiro renasceu. E é por isso que estou te cumprimentando."
105. "(...). E essa história nunca deverá se propagar como as outras histórias. Com todos os curingas - seja nas grandes, seja nas pequenas paciências - precisamos dizer às pessoas que este mundo é uma aventura incrível. Sabemos que não é fácil abrir os olhos das pessoas para que elas vejam o quanto é imenso e imperscrutável este nosso mundo. E enquanto elas não virem que aquilo que se mostra a olho nú é um mistério, até esse dia o mundo não estará maduro para ouvir a história das cartas da paciência de Frode e da ilha mágica."
106. "E há mais uma coisa de que você não deve se esquecer: o Curinga continuou perambulando pelo mundo. Mesmo que um dia todas as cartas da grande paciência fiquem cegas, 'ele' não perderá a esperança de poder abrir os olhos de algumas delas."107. "(...). E em ambos os casos ele tivera um tarefa muito importante: lembrar grandes 'e' pequenos anões, de tempos em tempos, de que eles eram criaturas muito especiais; criaturas que, embora vivas, sabiam muito pouco de si mesmas."
108. "(...): 'Gerações se sucedem, mas um bobo da corte, que a engrenagem do tempo é incapaz de engolir, perambula pelo mundo'. (...). Nem tudo o tempo reduz a pó, sempre há um curinga no baralho, que atravessa os séculos fazendo seus malabarismos sem perder um dente de leite sequer."
109. "Ah... para mim isso era um sinal mais do que claro de que a capacidade do homem de se surpreender com a vida jamais terminaria. Está certo que essa capacidade era um dom raro em compensação, ela jamais se extinguiria por completo. Continuaria aparecendo aqui e acolá, enquanto houvesse uma história e uma humanidade que abrigassem os curingas e suas peripécias."
110. "(...)? Nossa vida na terra pode parecer extremamente breve, mas fazemos parte de uma história comum que continua a se desenrolar, mesmo depois de já termos partido. Pois não vivemos 'apenas' nossas próprias vidas. (...): a gente anda e sente no ar a presença de pessoas que viveram neste mundo muito antes de qualquer um de nós."111. "(...)? Com o passar do tempo, e com as lembranças se afastando mais e mais daquilo que um dia as criou, não é possível evitar que muitas dúvidas se instalem na nossa cabeça."
112. "(...). Pois maior do que tudo é o amor. E o tempo nem de longa consegue apagá-lo com a mesma rapidez com que apaga as lembraças."
113. "O tempo se encarrega de nos transformar em adultos. O tempo se encarrega também de transformar velhos templos em ruínas e de afundar no mar ilhas mais velhas ainda."
114. "(...). Mas tenho certeza absoluta de que um curinga continua perambulando pelo mundo. Ele se encarregará de não permitir que o mundo se acomode."